Eu sabia que ele não era perfeito, mas afinal quem é detentor dessa qualidade? Qual a exata definição dessa palavra? Não seria então um sinônimo do nosso amor? Eu só sabia que precisava protegê-lo. Estava ali pra salvá-lo  e iria até o fim.
     Desde que viemos para cá minha responsabilidade sobre ele aumentou, ainda mais do que após o acidente, e não porque a moral me encarregue de ser sua tutora, mas porque eu o amo e simplesmente não posso deixar que se machuque, não posso deixar que o machuquem.
    Como se fossem há poucas horas, ainda me lembro de quando a felicidade nos rodeava sem ao menos termos que procurá-la, ela estava lá, apenas estava. Suas mãos encontravam as minhas o tempo todo, era automático, não éramos máquinas, entretanto era como se nosso amor já estivesse arquivado em nosso sistema e não havia maneira alguma de deletá-lo, era o que eu acreditava. É o que acredito. Porém, não posso mensurar o quanto sou grata por simplesmente tê-lo aqui, poder sentir seu cheiro, seu toque e ainda que apenas um leve movimentar de seus lábios, sou grata.
     No momento em que ouvi os doutores falando sobre os testes que realizariam com ele naquela tarde senti uma corrente de ar frio percorrer meu corpo, estremeci. Não podia deixar que percebessem minha reação, havendo uma mínima chance do plano dar certo, devia manter a postura e a frieza no olhar, assim como eles.
      Após a terceira refeição levei-o até a ala sete e nos dirigimos para o laboratório, fechei a porta. Não haviam passado-se cinco minutos e percebi uma movimentação vinda do lado de fora, deduzi que seriam o vigilantes se dirigindo para buscá-lo em seu acolhimento, local que melhor se adaptaria ao nome de cela. Apesar de seu interior ser idêntico a um quarto comum, decorado com cama box, cortinas, pufes e até mesmo um lindo abajur azul royal que eu sempre admirava, não morávamos em uma casa, na realidade, estávamos muito longe de casa. Sentei-me em uma cadeira em frente as macas, em minha imaginação pairavam imagens da dor que o fariam suportar e as lágrimas não demoraram a brotar em meus olhos. Logo notariam que o acolhimento estava vazio e eu, mentalmente, tentava formular desculpas para quando indagassem o por que de eu tê-lo levado, pois esse não era meu trabalho. Mas agora eu realmente só gostaria de saber o que ele estava sentido ou pensando, se é que estava, gosto de acreditar que sim, e sempre o imagino flutuando em nosso amor.
     Ele ainda não fala por si, apenas reproduz frases, como se estas estivem programadas, mas não estão. Os doutores dizem que são apenas reflexo, como se ele espelhasse os movimentos dos lábios das outras pessoas. Mas eu, mais uma vez, prefiro acreditar que ele está se desenvolvendo, como um bebê, aos poucos, e logo estará bem. É o que me faz permanecer forte.
      Os ruídos emitidos pelas botas pesadas dos vigilantes aumentavam ao passo que aproximavam-se do laboratório, e eu sentia que uma tsunami invadiria aquele lugar e destruiria em segundos tudo o que me mantinha de pé. Embora eu almejasse a destruição daqueles metros quadrados, não podia arriscar-me a perder tudo. Ainda não havia formulado a desculpa.
      Ele estava bem próximo a mim, inerte. Me levantei e abracei-o, como se fosse a ultima vez que sentiria seu corpo, poderia realmente ser, eu não sabia. Ele não se movimentou.
      Apesar de participar de todas as reuniões com os doutores, ter livre acesso as informações sobre os procedimentos realizados e sempre conseguir interferir, da maneira mais sutil possível, no que eu considerava um risco a ele, infelizmente e sim, me martirizava por isso, dessa vez, não consegui e por pouco não fui descoberta, já que meu coração me impulsionou a ser rude. Para o bem do plano, tive de manter o controle e ser passiva, porém havia um fato que não podia ser alterado, eles o machucariam.
     Dei um breve beijo em seus lábios e abracei-o novamente, dessa vez ainda mais forte, meu desejo era que ele acordasse de seu mundo artificial e segurasse em minhas mãos para fugirmos de lá. Ou apenas conseguisse sentir o que eu estava transmitindo através daquele gesto.
     - Volte pra mim. - Sussurrei.
  Olhei em seus olhos e por um pequeno momento eles me corresponderam. Eu sabia que não era apenas um reflexo, não podia ser, eu sentia. Ele me abraçou de leve, com uma paz que me acalmou. Não podia afirmar com toda a certeza se ele havia voltado, mas esses segundos, foram pra mim, o suficiente.
      A porta se abriu...

 Olá docinhos :) Tudo bem com vocês?

Acho que já tem muito texto aí em cima, então não vou prorrogar mais. Só quero saber o que vocês acharam, me contem nos comentários, por favorzinho!

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Um super beijo e fiquem com Deus!